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O amianto não é mais vilão

Marina Júlia de Aquino


Quem não se lembra de Cubatão, no litoral norte de São Paulo, batizada de “Vale da Morte” por causa da poluição? Não faz tanto tempo assim, no auge dos anos 80, a população vivia literalmente dentro de uma bolha de poluentes produzidas por indústrias petroquímicas e chamava a atenção do mundo os casos das crianças que ali nasciam sem cérebro.

Hoje o quadro mudou tão radicalmente – para melhor, claro – que essa imagem tende a se apagar da memória. Ambientalistas registram o retorno dos guarás-vermelhos que haviam sido expulsos pela sujeira e a população de tartarugas, micos e peixes-bois voltou a aumentar. O ar está mais puro.Esta reviravolta não se deve a um milagre, mas a dois fatores que caminham juntos e estão presentes em outros setores da economia: a tomada de consciência das indústrias e as exigências de uma sociedade cada vez mais organizada.

Ao se comemorar neste 16 de abril o Dia Internacional do Amianto, uma cidade do interior de Goiás, Minaçu, chama a atenção do mundo por lidar com um problema que também teve nos anos 80 os seus dias de vilão: o amianto. Naquela época, uma campanha internacional chamava a atenção para os perigos à saúde dos trabalhadores decorrentes da exposição à poeira do mineral, responsável por doenças pulmonares graves.

Minaçu abriga uma das maiores reservas mundiais de amianto crisotila, utilizado como matéria-prima numa infinidade de produtos, dentre os quais os mais conhecidos são as telhas que recobrem mais da metade das residências brasileiras – o que não é pouco. Estima-se que a cadeia produtiva do crisotila, da mineração às fábricas, do transporte ao comércio, emprega mais de 170 mil trabalhadores.

O que fazer, então, com esse produto? Condená-lo ao banimento? Há quem argumente que países da Europa já o fizeram, mas quase nunca é lembrado que eles utilizaram, e de forma errada no passado, o tipo de amianto mais perigoso, o anfibólio, que já foi banido do Brasil. Foi a conscientização em nosso País que levou ao desenvolvimento de instrumentos de controle que garantem, atualmente, total segurança para o manuseio do produto.

Além dos maciços investimentos em novas tecnologias e em mecanismos para promover a saúde no ambiente do trabalho, um acordo nacional para uso controlado e responsável do amianto crisotila, firmado entre empresários e trabalhadores, reflete o compromisso voltado para o bem-estar de quem está exposto ao produto.

Esse acordo é único na história da segurança do trabalho no Brasil. Dá aos trabalhadores total controle da mineração e das fábricas, podendo paralisar as atividades se o número de fibras do crisotila em suspensão atingir um número crítico. O ar que se respira na mina e nas fábricas registra 0,1 fibra por centímetro cúbico.

Para se ter uma ideia, a própria legislação define como seguro o ambiente de trabalho que registra 2 fibras por centímetro cúbico.Esta data, portanto, é especialmente comemorada em Minaçu, pois o que parecia impossível aconteceu: as doenças ocupacionais decorrentes do uso do amianto foram banidas. É motivo de orgulho para o Brasil e o mundo, e uma prova incontestável de que sempre há esperança quando se faz a coisa certa.

Marina Júlia de Aquino
Presidente do Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC)