Início Pesquisa Voltar
Data de publicaçao: 19/09/2014
Projeto Asbesto Ambiental - "Exposição Ambiental ao Asbesto: Avaliação do Risco e Efeitos na Saúde"

1 - AVALIAÇÃO AMBIENTAL

1.1    - RESUMO 

As exposições ambiental extra-domiciliar urbana ao asbesto, assim como a intra-domiciliar, em moradias de grandes centros urbanos cobertas com telhas de cimento-amianto, são desconhecidas em nosso meio. Desta forma, este estudo objetiva fornecer subsídios para a quantificação da exposição ambiental urbana ― de fundo‖ ao asbesto no Brasil (background exposure) bem como a exposição intra-domiciliar em cinco capitais brasileiras nas condições acima descritas e seus possíveis efeitos clínicos, funcionais e estruturais no sistema respiratório. A exposição ambiental à fibras com potencial patogênico definido (≥ 5 µm) foi quantificada (f/cc) através de Microscopia Eletrônica de Transmissão pela Chatfield Technical Consulting Limited (Canadá) e pelo Laboratório de Microscopia Eletrônica do Instituto de Física da USP, com descrição da presença ou não de fibras menores, sem potencial patogênico definido (< 5 µm), pelo laboratório canadense. 

Em relação à exposição ambiental intra-domiciliar, 21/22 (95,5 %) das amostras foram negativas para estruturas ≥ 5 µm, com a amostra positiva (crisotila) indicando concentração de 0,00083 f/cc. Similarmente, 22/25 (86,4 %) das amostras foram negativas para estruturas < 5 µm, com as positivas indicando 2-3 estruturas de crisotila por amostra. No que concerne à exposição ambiental extra-domiciliar, 25/30 (83,4 %) das amostras foram negativas para estruturas ≥ 5 µm, com as amostras positivas (4 de crisotila e 1 de anfibólio) indicando concentrações de 0,00040-0,00086 f/cc. Similarmente, 25/30 (83,4 %) das amostras foram negativas para estruturas < 5 µm, com as positivas indicando 1 estrutura de crisotila por amostra. O cotejamento de tais valores com os descritos na literatura internacional indica que as concentrações calculadas estão dentro dos intervalos encontrados nos grandes centros urbanos ocidentais. Em relação às avaliações da amostra dos moradores estudados, não foram encontradas alterações clínicas, funcionais respiratórias e tomográficas de alta resolução, passíveis de atribuição à inalação ambiental à fibras de asbesto. 

Portanto, nossos resultados indicam que: 
1. a exposição ambiental intra e extra-domiciliar à fibras de asbesto ≥ 5 µm (com potencial patogênico) e fibras < 5 µm (sem potencial patogênico), no momento da coleta das amostras (avaliação do risco), foi comparável ao já descrito em grandes áreas urbanas de diversos países desenvolvidos; e dentro dos limites aceitáveis de acordo com a Organização Mundial de Saúde e as agências internacionais de controle da exposição. 

2. não se observou, na amostra de moradores avaliados, evidências de acometimento clínico e funcional respiratório ou tomográfico de alta resolução passíveis de atribuição à exposição ambiental à fibras de asbesto.


1 - AVALIAÇÃO OCUPACIONAL

2.1 – RESUMO 

O presente relatório traz os dados finais da avaliação de 2075 trabalhadores e ex-trabalhadores da atividade de mineração de asbesto dos quais logrou-se o acompanhamento longitudinal, por tomografia computadorizada de alta resolução (TCAR), relativo ao Projeto Asbesto-I, em 405 indivíduos. Os principais resultados podem ser assim descritos: 

1. Numa avaliação transversal no Estudo atual: 

● A ocorrência de doença pleural (Pl) ou parenquimatosa (Asb) compatível com a exposição ao asbesto, diagnosticada por TCAR (N=1427), foi substancialmente maior no GRUPO I (N=124 – Asb = 2; Asb +Pl=10; e Pl = 60) e também no GRUPO II (N=604 Asb=10; Asb + Pl = 16; Pl = 53), decrescendo acentuadamente no GRUPO IIIA (N=481 – Asb = 3; Asb + PL = 5; PL = 14) e, principalmente, no GRUPO IIIB (N=216 Asb = 0; Asb + PL = 0; PL = 4). Por conseguinte, a Razão de Chance (Odds Ratio) para doença pleural ou parenquimatosa asbesto-relacionada decresceu progressivamente com a redução da exposição cumulativa observada do GRUPO I em direção ao GRUPO IIIB. 

● Dos quatro casos de placas pleurais identificados no GRUPO IIIB, dois deles tiveram exposição anterior a 1980 na indústria do fibrocimento. 

● Houve fraca concordância entre os achados tomográficos e radiográficos. assumindo-se a TCAR como método de referência, o RXT apresentou elevada taxa de falso-positivos para asbestose e falso-negativo para placas pleurais. 

● Devido a reduzida prevalência de alterações atribuíveis ao asbesto nos GRUPOS IIIA e IIIB, não foi possível uma comparação válida entre sub-grupos com e sem alterações pleuro-parenquimatosas. 

● Diagnóstico possível de câncer de pulmão foi considerado em 15 casos. Em 8 (6 casos no presente estudo e 2 do Projeto-I) o diagnóstico foi confirmado e nos 7 restantes foi presumido. Por informações insuficientes, o nexo causal com a exposição ocupacional, embora considerado, não pode ser estabelecido em todos os indivíduos. 

2. Numa avaliação longitudinal (Projetos I e II): 

● no GRUPO I, os pacientes que passaram a apresentar anormalidades intersticiais compatíveis com asbestose (N= 3, 12% dos normais na avaliação inicial) e placas pleurais (N= 6, 24% dos normais na avaliação inicial) tiveram maior exposição cumulativa, tendendo a ser mais idosos e com maior tempo de exposição do que o sub-grupo que permaneceu estável em relação à avaliação inicial (N= 15, 60% dos normais na avaliação inicial). 

● no GRUPO II, os pacientes que passaram a apresentar anormalidades intersticiais compatíveis com asbestose (N= 8, 4,6% dos normais na avaliação inicial) e placas pleurais (N= 12, 6,9% dos normais na avaliação inicial) eram mais idosos e tiveram maior exposição cumulativa do que o sub-grupo que permaneceu estável em relação à avaliação inicial (N= 154, 88 % dos normais na avaliação inicial). Observou-se maior declínio funcional absoluto e, principalmente relativo, nos indivíduos que evoluíram para alterações intersticiais compatíveis com asbestose. 

● surgiram 5 novos casos com placas no GRUPO IIIA, ou seja, 3,8%, sendo que 4 tinham TCAR sem alterações no estudo inicial. Nenhum caso de alteração intersticial compatível com asbestose foi identificado evolutivamente no Grupo IIIA. Não se identificou novas alterações nem progressão do comprometimento pleural ou intersticial nos indivíduos do GRUPO IIIB, que fizeram TCAR nos dois estudos. 

3. Houve fraca concordância entre os achados tomográficos e radiográficos. Assumindo-se a TCAR como método de referência, o RXT apresentou elevada taxa de falso-positivos para asbestose e falso-negativo para placas pleurais, tanto na avaliação transversal como na evolutiva dos casos alterados no Projeto I.