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Data de publicaçao: 17/09/2014
A Biopersistência da Crisotila Brasileira

Com o entendimento inicial da relação entre amianto e doença, pouca informação se dispunha quanto a se os dois diferentes grupos do mineral chamado amianto tinham potenciais iguais ou diferentes de causar doença.

Ele é normalmente descrito como sendo uma fibra resistente, que, se inalada, poderia permanecer no pulmão e causar doenças. E foi apenas com o recente desenvolvimento de um protocolo padronizado para a avaliação da biopersistência de fibras minerais no pulmão que se demonstrou que a cinética de depuração da crisotila é completamente diferente da apresentada pelos anfibólios, sendo a crisotila rapidamente eliminada do pulmão. Além disso, estudos epidemiológicos também apontaram diferenças entre o amianto crisotila e o anfibólio.

Os estudos sobre biopersistência mencionados anteriormente indicaram que, após inalada, a crisotila do Canadá e da Califórnia eram rapidamente eliminadas do pulmão. No entanto, observaram-se variações na mineralogia da crisotila de região para região. Esse fato costuma estar mais associado às variações das forças que criaram as fibras do minério centenas de anos atrás. No presente estudo, foram avaliados a dinâmica e o índice de eliminação da crisotila oriunda da mina de Cana Brava (na região centro-oeste do Brasil) em um estudo de biopersistência por inalação em ratos.

Em fibras vítreas sintéticas, notou-se que a biopersistência de fibras maiores que 20 μm estava diretamente relacionada à causa de doenças em potencial. O estudo teve como objetivo determinar a depuração pulmonar (biopersistência), além da translocação e distribuição internas. Como as fibras mais longas têm mostrado maior potencial patogênico, optou-se por usar amostras de crisotila com mais de 450 fibras/cm³ maiores que 20 μm em exposição por aerossol.

1) Estudo de depuração de fibra (digestão pulmonar): Ao dia 1, 2 ou 7, semana 2, meses 1, 3, 6 ou 12 após 5 dias (6 horas diárias) de exposição por inalação, os pulmões dos animais foram digeridos a baixa temperatura e o resíduo, posteriormente analisado por microscopia de transmissão de elétrons (na GSA Corp.) para se determinar o número total de fibras de crisotila encontradas, bem como a sua distribuição por tamanho (comprimento e diâmetro) nos pulmões. Esse procedimento de digestão pulmonar atinge todo o pulmão sem que haja possibilidades de identificar em quais locais as fibras estão localizadas. 2) Estudo sobre a distribuição das fibras (microscopia confocal): Incluiu-se esse procedimento para que fosse possível identificar a localização das fibras no pulmão. Após 2 dias, 2 semanas, 3, 6 e 12 meses de exposição, os pulmões dos grupos de animais foram analisados usando-se microscopia confocal com o objetivo de determinar o local anatômico, a orientação e a distribuição das fibrilas de crisotila retidas nas vias respiratórias e as fibras translocadas para o tecido linfóide associado ao brônquio (BALT) subjacente aos bronquíolos dos pulmões dos ratos

Este estudo foi realizado com o apoio da SAMA Mineração de Amianto LTDA. O endereço para correspondência do Dr. David M. Bernstein, Consultor em Toxicologia, é 40 chemin de laPetite-Boissière, 1208 Genebra, Suíça. E-mail: davidb@itox.ch

Dado isso, se as fibras forem removidas desses tecidos, elas estarão efetivamente neutralizadas no pulmão. Embora a translocação das fibras para o BALT e o tecido linfático seja considerada importante – como nos casos de doenças humanas relacionadas a amianto –, não há relatos, na literatura médica, de alterações patológicas no BALT e no tecido linfático causadas por amianto (3, 4).

Observou-se que a crisotila é removida rapidamente do pulmão. Fibras maiores que 20 μm foram depuradas em um tempo médio de 1,3 dias, mais provavelmente por dissolução e quebra em fibras menores. As fibras menores também foram rapidamente depuradas do pulmão – com fibras de 5 a 20 μm sendo depuradas ainda mais rapidamente (T1/2 = 2,4 dias) do que as de < 5 μm de comprimento (T1/2 = 23 dias). Esperava-se que a divisão das fibras maiores aumentasse o número das menores, o que poderia ser o responsável por essa diferença nos índices de depuração. Essas fibras menores jamais foram encontradas em grupo, e sim de forma separada, em fibrilas inteiras (às vezes, desenroladas em uma das extremidades). As fibras menores, livres, se encontravam nos cantos do septo alveolar, ao passo que as fibras maiores, ou seus fragmentos, estavam nos macrófagos alveolares. O mesmo se deu com as fibras no tecido linfático, à medida que apareciam livres ou em linfócitos fagocíticos. Esses resultados sustentam as evidências demonstradas por McDonald e McDonald (1997) de que as fibras de crisotila, são depuradas (eliminadas) rapidamente do pulmão ao contrário das fibras de anfibólio, que persistem.